Com a popularização do Facebook e do Twitter entre os brasileiros,
algumas corretoras de valores já estão utilizando estes canais para
interagir com seus clientes ou até mesmo prospectando novos investidores
através deles. As redes sociais estão se transformando em ferramentas
de informação e novas plataformas para fazer negócios. Atualmente, já é
possível até comprar e vender ações negociadas na Bolsa de Valores de
São Paulo através do Facebook.
Desde a segunda quinzena de
janeiro, a Corretora Souza Barros tem uma página no Facebook onde se
podem obter informações sobre a Bolsa, sobre determinada ação ou mesmo
fazer perguntas e tirar dúvidas. Dois dias por semana — terças e
quintas-feiras, entre 16h30m e 17h30m — o analista técnico da Souza
Barros, Eduardo Matsura, faz uma espécie de chat com os
interessados. Basta adicionar a página da corretora no Facebook para
passar a receber as informações e participar do serviço tira-dúvidas.
Não há nenhum custo. O mesmo vale para o Twitter, onde a corretora já
tem três mil seguidores, que recebem informações do mercado financeiro.
—
Falamos sobre oportunidades de ganho no curto prazo, identificadas pela
nossa equipe de análise. Decidimos isso pelo perfil dos usuários que
usam essas redes. Eles buscam a informação rápida para ter um ganho mais
imediato, naquela semana. É diferente da análise fundamentalista, de
prazo mais longo, que acompanha os fundamentos da empresa. Pelo
Facebook, vale a informação baseada nos números do pregão, como preço da
ação, valorização, máximas e mínimas. É uma análise quase em tempo real
—explica Daniel Garcia, gerente de Homebroker da Souza Barros.
Garcia
revela que 25% das pessoas que recebem informações da Souza Barros pelo
Facebook já são clientes da corretora. Os demais buscam desde
informações básicas, sobre como operar com ações, até algo mais
específico, como o desempenho de um determinado papel, se é um bom
momento para vendê-lo ou aumentar a posição.
— Nossa expectativa é
que em algum momento esse usuário se converta em cliente. No fim das
contas, as redes sociais são novos canais de negócios da corretora.
Temos um analista de rede social que gerencia essa demanda. Em casos
onde há interesse da pessoa em entrar no mercado de ações, o analista
orienta como se cadastrar na corretora, pede o telefone e um assessor
entra em contato com o cliente para esclarecer dúvidas mais específicas.
Mas isso já fora da rede social, de forma particular. No Facebook,
procuramos esclarecer as dúvidas mais gerais, que interessam a todos —
afirma Garcia.
O potencial de crescimento dos negócios nas redes
sociais no Brasil é imenso. Uma pesquisa realizada pelo Ibope Nielsen
Online, no ano passado, mostrou que 30,9 milhões de brasileiros utilizam
o Facebook. O número foi obtido no mês de agosto de 2011, considerando
usuários únicos. O Twitter teve 14,2 milhões de usuários, no mesmo
período. O estudo mostrou que em agosto, 87% dos internautas (39,3
milhões de pessoas) brasileiros faziam parte de alguma comunidade.
—
Com estes números, o Brasil se consolida como um mercado com elevada
utilização de sites sociais — disse nota divulgada pelo Ibope.
A
Corretora Spinelli já deu um passo adiante. Ações de companhias
negociadas na Bovespa já podem ser compradas pelo Facebook, através de
um aplicativo desenvolvido pela corretora, que é carinhosamente chamado
de "Facebroker". Da mesma forma, o interessado deve adicionar a página
da Spinelli no Facebook, onde também passa a ter acesso a informações do
mercado financeiro. Se decidir investir, pode fazer por ali mesmo.
—
O sistema que desenvolvemos aparece com a moldura do Facebook, mas fica
hospedado aqui na corretora. Por isso, não há risco quanto à segurança.
E quando a pessoa investe, isso não é compartilhado. Assim, a
privacidade do investidor fica preservada — explica Rodrigo Puga,
responsável pelo homebroker da Spinelli.
A corretora tem
dez mil clientes e cerca de 10% já operam pelo Facebroker, um número
considerado excelente pela corretora, que talvez seja a pioneira nesse
tipo de serviço no mundo.
— Pesquisamos e não achamos ninguém com
um serviço parecido. Nem nos Estados Unidos, onde o mercado de capitais é
muito desenvolvido — conta Puga.
Ele diz que o cliente que
utiliza a rede social para investir tem entre 25 a 35 anos, cerca de 80%
é de homens e que procuram oportunidades de curto prazo. Eles utilizam o
serviço também para tirar dúvidas (a Spinelli tem ainda um blog de
ações), além de fornecer informações pelo Facebook e pelo Twitter.
—
Estes canais são realmente para prestar serviço aos interessados. Não
usamos como “outdoor”. Ou seja, não ficamos mandando e-mails ou fazendo
propaganda através deles. É um canal para interagir em tempo real:
postamos notícias, tiramos dúvidas, fazemos recomendações —enfatiza
Puga.
Para atender esse público, a Spinelli mantém três analistas.
Nos
Estados Unidos, o uso das redes sociais para difundir informações sobre
o mercado financeiro já se popularizou. O StockTwits, por exemplo, é
uma espécie de Twitter do mercado financeiro. O site usa a mesma
plataforma de comunidade, e os seguidores trocam informações rápidas e
em tempo real sobre as ações que estão comprando ou vendendo. Também
postam informações sobre oportunidades ou tendências do mercado. As
informações são postadas por analistas, investidores e por companhias.
A
empresa americana StreamBase criou um software de análise de dados
chamado CEP (Complex Event Processing), que possibilita filtrar e
analisar em tempo real as informações que circulam no Twitter. Com isso,
consegue saber antecipadamente quais dados podem influenciar as pessoas
nas decisões de comprar ou vender de ações.
— A rede social já
pode ser considerada uma aliada do mercado financeiro — escreveu em seu
blog, o presidente da StreamBase, Mark Palmer.
No Brasil, analistas de mercado dizem que já usam o Twitter para trocar informações após o fechamento do pregão.
—
Na semana passada, por exemplo, a Petrobras divulgou seus resultados
após o fechamento do pregão. O Twitter virou um canal de discussão — diz
um analista de renda variável, que recomenda cuidado com a ferramenta. —
A troca de informações pelo Twitter é positiva, mas esse canal também
pode ser usado para manipular informações. Portanto, todo cuidado com a
fonte de informação é pouco. A informação da rede social não pode ser a
única na hora de vender ou comprar ações.