Muitas pessoas adoram seus celulares. O Facebook, até agora, não é grande fã desses telefones.
Em meio às cifras financeiras espantosas que a empresa revelou em 1° de
fevereiro, quando registrou sua oferta pública de ações, estava uma
confissão interessante. Embora mais de metade de seus 845 milhões de
membros se conecte ao Facebook por um aparelho móvel, a empresa ainda
não encontrou uma maneira de ganhar dinheiro com isso.
"No momento, não geramos nenhuma receita significativa com o uso do
Facebook em produtos móveis, e nossa capacidade de fazê-lo não foi
comprovada", disse a empresa em sua revisão de riscos.
Bay Ismoyo/France Presse | ||
Meninas indianas mostram seus Murais do Facebook na tela de smartphones |
Num mundo que avança rapidamente para uma era de computação móvel, esse é
um problema preocupante para o Facebook, a estrela mais brilhante do
Vale do Silício -mais ainda porque boa parte do crescimento dela neste
momento está se dando em países como Chile, Turquia, Venezuela e Brasil,
onde as pessoas acessam a internet em grande medida através do telefone
celular.
O Facebook não é a única empresa que luta para traduzir seu sucesso na
internet para aparelhos móveis, onde o espaço na tela é valioso e onde
as pessoas têm pouca paciência para superlotação da tela ou para demoras
em carregar informações. Esse é um problema que aflige companhias tão
diferentes quanto jornais e o serviço de streaming radio Pandora, e é
provável que se intensifique. Em 2011, segundo relatório da empresa de
pesquisas Canalys, foram vendidos no mundo mais smartphones que
computadores.
Mas a questão parece ganhar urgência especial para o Facebook, que é
tremendamente popular entre seus usuários e é visto como o
empreendimento do futuro, um híbrido de ponto de encontro social e canal
de informações, plataforma e editora. Em outras palavras: se o Facebook
não encontrar uma resposta, quem poderá?
"Esse é um enorme calcanhar de Aquiles para o Facebook", disse Susan
Elinger, consultora do Altimeter Group, que presta assessoria de
tecnologia. "Existe um movimento claro em direção a mais consumo de
mídia social em aparelhos móveis, e o Facebook não tem uma estratégia
para conseguir receita com isso. Ele ainda não encontrou uma resposta."
O Facebook se negou a comentar antecipadamente sua oferta de ações, mas a
empresa fez uma revisão de suas preocupações no registro da oferta,
afirmando prever que seus usuários em aparelhos móveis "superem o ritmo
de crescimento de nossos usuários ativos totais no futuro previsível".
E, se os executivos não conseguirem mapear um caminho que leve à
lucratividade nas plataformas móveis, "a receita e os resultados
financeiros da empresa poderão ser negativamente afetados".
De acordo com especialistas, está em jogo uma parcela importante de
receita publicitária. Segundo pesquisa da eMarketer, os gastos totais
com publicidade em aparelhos móveis nos Estados Unidos devem chegar a
US$ 2,6 bilhões neste ano. Mas isso ainda será apenas uma parte pequena
de um mercado de publicidade on-line que deve chegar a US$ 39,5 bilhões.
O Google, concorrente do Facebook na internet, foi o maior participante
do mercado de anúncios em celulares no ano passado, com receita de US$
750 milhões, e a Apple ficou em segundo lugar, com mais ou menos US$ 90
milhões, segundo a eMarketer.
Justin Sullivan/Getty Images/AFP | ||
Mark Zuckerberg, executivo-chefe do Facebook, fala em evento na sede da empresa em abril de 2011 |
Um problema sério da publicidade em aparelhos móveis é que os usuários
são menos receptivos a anúncios intrusivos quando estão com a atenção
focada sobre um objetivo, como postar uma atualização de status
rapidamente ou buscar um endereço.
"Temos anúncios em nossos computadores há 15 anos e já estamos
acostumados", disse Noah Elkin, analista da eMarketer. "Mas, na tela
menor do smartphone, os anúncios são incômodos."
É claro que a evolução do marketing em aparelhos móveis ainda está em
fase relativamente inicial, e é possível que o Facebook esteja demorando
propositalmente a investir nessa área. Analistas dizem que a empresa
pode estar focando aumentar o tráfego para seu site e aplicativos para
aparelhos móveis, mais ou menos como, inicialmente, manteve seu web site
original livre de anúncios.
Mas, segundo especialistas, também é possível que o Facebook esteja de
posse de uma reserva não explorada de receita publicitária. Seus
anúncios para aparelhos móveis poderiam ser altamente rentáveis se a
empresa começasse a mostrar aos usuários anúncios ou cupons ligados aos
lugares que visitam e as empresas que frequentam.
Em vista de como a atividade em aparelhos móveis é crucial para o futuro
do Facebook, muitas pessoas ficaram surpresas pelo fato de a empresa
aparentemente ter demorado a lançar um aplicativo para o iPad, como fez
finalmente em outubro. Alguns criticam o app da companhia para o iPhone,
dizendo que é repleto de bugs.
Isso levou algumas pessoas a perguntar se o Facebook terá demorado
propositalmente a investir em seus aplicativos para celulares, enquanto
define uma estratégia mais ampla. Se os usuários chegarem ao Facebook
através de um browser para aparelho móvel, ao invés de um app, a empresa
poderá evitar o pedágio da Apple.
O fato de direcionar usuários para páginas da web nos aparelhos móveis
permite que o Facebook evite criar um app para cada tipo de telefone,
disse Joe Hewitt, que criou um app para iPhone para o Facebook e deixou a
companhia no ano passado. "É sempre vantajoso para o Facebook deixar
que a web seja seu sistema operacional", disse ele. "Você pode
desenvolver na internet e reutilizar o máximo possível de código."
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